quarta-feira, 25 de junho de 2014

Resenha impressionista sobre o filme XXY



FICHA TÉCNICA Título Original: XXY Título no Brasil: XXY Direção: Lucía Puenzo Gênero: Drama Duração: 91 minutos Ano de Lançamento: 2007 Origem: Argentina / França / Espanha.

Alex (Inés Efron) nasceu com características sexuais comuns aos dois gêneros e possuía pênis e vagina. Os pais resolveram deixar que o tempo e a própria Alex (parece que sempre optaram por ele (a) ser mulher), decidisse a escolha da sua própria sexualidade e fugiram das intervenções cirúrgicas que insistiam os médicos que desejavam castrá-la enquanto bebê. Saíram então da Argentina e foram para um vilarejo pesqueiro na costa do Uruguai.  Principalmente o pai de Alex, que a considerou perfeita, independente da opinião das pessoas,  estando convencido de que uma cirurgia deste tipo seria uma violência ao corpo de Alex sem considerar seu futuro biológico.
Até que, um dia, a família recebe a visita de um casal, que leva consigo o filho adolescente, Álvaro. É quando Alex, que está com 15 anos, sente-se atraída pelo jovem, inclusive lhe propondo que transem coisa que ele de pronto não responde. 
O Filme XXY expõe o assunto da intersexualidade e provoca o surgimento de inúmeras questões  que vão desde a análise da inserção da figura feminina na comunidade, bem como as tênues fronteiras entre feminilidade e masculinidade, identidade sexual (Alex decide não tomar os corticoides e assim se virilizar) até os impactos que a jovem enfrenta, devido a sua condição biológica na sociedade, ao ser exposta pelo melhor amigo e por pouco não sofrer um estupro coletivo por parte de rapazes do lugarejo, curiosos sobre a dupla condição sexual da moça.
O médico, pai de Álvaro é convidado pela mãe de Alex para conhecê-la e ver a possibilidade de castrá-la, seu interesse por Alex é puramente clínico. O temor dessa mãe é que a filha se virilize e não se proponha a ser uma mulher, o que seria uma condição mais cômoda para a família. No meio desse ínterim, Alex se relaciona com Álvaro, não como fêmea e sim como macho e seu pai passa a entender que ela jamais será uma mulher no sentido “normatizado” de ser, pois  ele  percebe que talvez a “filha”, seja no fundo um filho. É óbvio que o pai desaprova essa ideia de castração e no meio do tormento ele busca a opinião de outra pessoa, noticiado no jornal, que foi castrado, viveu como mulher até que, ao não se identificar como homem passou a reverter o processo de feminilização e passou a definir-se como homem e assim o conseguiu, inclusive configurando uma família do ponto de vista tradicional. Mas ele tranquiliza o pai de Alex que ele tomou a decisão certa não deixando a filha nas mães dos normatizadores.
A cena mais incrível que achei foi a que ela se vê no espelho, tentando entender  seus desejos sexuais e o que os pais querem para ela. Esse olhar feminino, tentando se encontrar, atenta para a questão dos gêneros sexuais e da ambiguidade que há no feminino/masculino nos oferece um denso contato com a realidade das pessoas que tem que se decidir que sexo querem ter, e o  porquê  de terem  que fazer essa escolha, quase que obrigadas a decidir-se para serem aceitas no meio social. XXY não é só uma discussão sobre intersexualidade, mas uma discussão sobre respeito e preconceito. E no final, a escolha de Alex é ainda mais lúcida do que qualquer um esperava, pois ela sente o apoio incondicional de seu pai para seguir sendo o que é.
Dura será a realidade de Álvaro, com um pai que o despreza por não ter seus talentos de cirurgião e de assumir sua homossexualidade, prontamente exposta por Alex, já que o pai já o deixou certo de que isso seria o pior para sua reputação. Para Álvaro, Alex era o sonho de configuração daquilo que seria perfeito para sua realização afetiva e sexual, porém para Alex a realização plena estaria mais relacionada ao emocional do que  ao sexual. Ela compreende os motivos de Álvaro, mas ela não quer adequar-se e sim romper com o estabelecido, por isso de livre e espontânea vontade expõe sua “deformidade” para ele quando se despedem no cais. Ela escolheu o mais difícil, ser ela mesma, independente das pessoas a condenarem. 
 

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