Título no Brasil: Uma Rua Chamada Pecado Título Original: A Streetcar Named Desire

Ano de Lançamento: 1951
Gênero Drama
País de Origem EUA
Duração122 minutos
Direção Elia Kazan
Estúdio/Distrib. Warner Home Vídeo
Blanche DuBois, (Vivien Leigh) é uma mulher frágil e neurótica, que vai visitar sua irmã grávida, em Nova Orleans, em busca de um lugar que possa chamar de seu, já que, após seduzir um jovem de 17 anos, ela foi expulsa da escola onde lecionava Inglês, na cidade do Mississipi. Sua chegada afetará fortemente a vida da sua irmã, do seu cunhado e a sua própria vida.
A década de 1950 foi uma das mais conservadoras e censuradas da história do cinema americano, exigindo assim um talento a mais daqueles cineastas que procuravam passar através de suas obras algo além do permitido. Alguns batiam de frente com as produtoras e tinham seus filmes proibidos e retidos; outros concordavam com edições finais rígidas, um processo que geralmente “desfigurava” por completo a ideia inicial do trabalho; e havia também aqueles que adaptavam suas histórias com o objetivo de driblar a censura, que é o caso de Elia Kazan e seu antológico Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, 1951).
A peça original escrita por Tennessee Williams, Um Bonde Chamado Desejo, foi um sucesso de crítica e público nos palcos da Broadway e o texto foi premiado com o prêmio Pulitzer de Literatura. O grande desafio era encaixar essa história dentro dos moldes aceitáveis de Hollywood, já que seu tema principal girava em torno das mais diversas facetas do desejo, em especial o feminino. Até o momento, nenhum filme tivera coragem e ousadia de colocar em xeque um assunto tão delicado como a luxúria e as fantasias das mulheres. O mundo ainda era muito fixado em fundamentos machistas, e além de tudo havia no meio da trama um personagem de conotação gay – O Mitch, colega de trabalho de Stanley e pretendente de Blanche também em sua solteirice exacerbada soa também como um personagem Gay, além do suicida marido de Blanche denotado somente por sua "fraqueza" o que deixa algo nesse sentido implícito.
O filme é repleto de personagens dúbios, que carregam em sua essência diversas nuances, mas todas muito bem disfarçadas, a fim de não despertar nenhuma atenção indevida. Cabia ao público enxergar isso por trás da história de Blanche DuBois, e sua temporada na casa da irmã, Stella Kowalski (Kim Hunter), e de seu cunhado, Stanley (Marlon Brando). Dividida entre a repulsa pela personalidade bruta de Stanley e pela tensão sexual que se estabelece entre os dois, Blanche começa a entrar em um processo enlouquecedor ao relembrar do seu passado nebuloso e logo seus verdadeiros segredos começam a vir à tona. Ao analisarmos a composição de seus respectivos papéis, podemos começar pela Blanche. Em uma das atuações mais certeiras e calculadas do cinema, Vivien Leigh encarna Blanche DuBois com uma precisão de mestre. Herdeira de um refinamento aristocrático decadente, a personagem principal é um verdadeiro mistério, por mais que a câmera se foque em centralizá-la na maior parte do tempo. Atormentada pelo seu passado nunca plenamente revelado a nós espectadores, ela se vê diante de uma situação delicada ao sentir um misto de atração e repulsão por seu cunhado. Seu lado racional o vê como um “ordinário”, mas seu desejo de mulher o anseia descontroladamente, o que só colabora para suas lembranças da época em que era casada - com um jovem que cometera suicídio por, segundo ela, tê-lo desprezado - virem à tona. Gesticulando sempre de maneira excessivamente teatralizada e exagerada, perto do caricatural, Vivien Leigh consegue assim captar a essência de Blanche, uma mulher que ainda vive de aparências e que possui um lado emocional extremamente fragilizado. De certa forma chega a ironizar a superficialidade tão costumeira das atuações forçadas nos filmes americanos mais antigos, causando contraste com o que Marlon Brando propunha por meio de sua encenação como Stanley Kowalski.
Blanche se culpa pelo suicídio do jovem e demonstra que tem uma acentuada “queda” por adolescentes. Neurótica pela beleza da juventude perdida e pelo uso abusivo de álcool, quando questionada sobre ser uma mulher “direita” ela diz, "o que é isso?, O coração deveria ser o senhor da vida de uma mulher e não ser 'direita'". Assim como Stanley espanta Blanche com sua maneira de ser, Brando pasmou todos seus colegas de profissão com sua interpretação marcante, sendo alçado rapidamente ao Olimpo dos atores mais cobiçados e requisitados do cinema americano. Sua roupa colada ao corpo pelo suor, sua presença como macho alfa da casa e o desejo faiscante em seu olhar representam nada mais do que a personificação dos desejos femininos mais selvagens, que ganham voz na pele de Stella, a esposa que não liga de ser maltratada pelo marido pelo qual nutre uma paixão cega e irracional, que faz com que ela aceite ser agredida e retome ao seu lugar de esposa apaixonada. Depois disso, Hollywood nunca mais foi a mesma. A referencia ao desejo está explícito na obra cinematográfica, pois para poder chegar à casa de sua irmã, Blanche precisa tomar um bonde chamado Desejo e logo depois um chamado Cemitério – a grande ambiguidade crítica de toda a obra. Afinal, é o tal transporte que tira Blanche de sua condição de mentiras e aparências para levá-la ao submundo da pobreza, ao som de jazz, que é Nova Orleans (cenário e gênero musical pouquíssimo explorado pelo cinema da época). O desejo irracional que a conduz rumo à perdição. É também esse o mesmo desejo que Stella nutre pelo marido, e que Stanley nutre pelas duas; o mesmo que leva o inocente Mitch (Karl Malden) a se apaixonar cegamente pelo mundo de ilusões que Blanche simboliza; o mesmo que fez no passado o marido dela se suicidar, depois de se descobrir homossexual, por isso ela o chama de fraco e diz que o despreza, (fato que ficou cuidadosamente implícito no processo de transposição da peça para as telonas).
A força desse sentimento é tanta que loucura, mentiras, temores, pecados e tensão sexual explodem na tela a todo o momento por meio de diálogos riquíssimos e atuações memoráveis. A trilha sonora regada a jazz é intensificada conforme Blanche vai piorando de sua saúde mental (como se entrasse na mente da personagem e reverberasse lá dentro com fúria), assim como vai desaparecendo sutilmente quando a personagem se recupera em momentos de lucidez. A iluminação se reveza entre ofuscante e esmaecida, também de maneira proposital, de acordo com a situação. O aspecto teatralizado amplia a força dos diálogos e das atuações, e a fotografia em preto e branco é certeira. Nada escapa à lente do cineasta. Por fim Blanche e Stanley levam a cabo seus desejos um pelo outro, o que agrava de maneira terrível as psicoses da personagem de ver mortos e ouvir músicas, dentre outros.
Quando Stanley se ver sozinho na casa com Blanche, depois de deixar Stella na maternidade para dar a luz a criança, ele finalmente encurrala Blanche e consuma os desejos de ambos, veementes desde o inicio do filme. Depois disso, a saúde mental de Blanche piora consideravelmente e ela se converte em uma verdadeira louca de fato. Sem outra alternativa, com um bebê nos braços, Stella cede a pressão de Stanley de “livrar-se” da irmã internando-a num manicômio, cena muitíssimo forte do final, em que Blanche declara “sempre dependi da bondade de estranhos” já que da sua irmã ela não encontrou o amor que precisava. Stella pega a criança e diz que não volta mais para Stanley.... de uma coisa quero crer, a relação dos dois jamais voltou a ser a mesma.
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