quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A Beleza em Corda – A arte de Yukimura Haruki (雪村春樹)

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

Dez pontos básicos sobre a liberdade sexual

Esta é a lista dos 10 pontos básicos a respeito da liberdade sexual, aprovados pela Comissão de Ética do 5º Congresso Mundial sobre Sexualidade Humana, realizado em 1987.


1. A liberdade de qualquer pensamento, fantasia ou desejo sexual. (Qualquer pessoa tem direito a pensamentos pessoais, não importa quão bizarros possam parecer a outras pessoas.)
2. O direito ao entretenimento, livremente disponível, incluindo material que satisfaça toda diversidade. (Que todos possam ver pornografia, ler revistas, procurar profissionais os mais diversos, sem sofrer qualquer preconceito ou estigma.)
3. O direito a não estar exposto a material e/ou ambiente de natureza sexual. (Ninguém pode ser forçado a ter contato com material pornográfico ou de ordem sexual.)
4. O direito à autodeterminação sexual. (Cada um tem direito a fazer o que quiser, sexualmente, com seu corpo.)
5. O direito de procurar e realizar atividades sexuais consensuais. (Todos têm o direito a relacionarem-se sexualmente com quem quiserem, desde que haja consentimento mútuo.)
6. O direito de envolver-se em atos e atividades sexuais de qualquer tipo, desde que não seja por meio de coação, violência, constrangimento ou fraude. (Todos os tipos de relação sexual são aceitáveis, desde que os participantes estejam conscientes e haja consentimento mútuo.)
7. O direito de estar livre de perseguição, condenação, discriminação ou intervenção em ambientes privados. (Todas as chamadas minorias sexuais – gls, bdsm, swingers, fetichistas, bissexuais e outros – devem ser livres para realizar suas atividades sexuais sem serem molestados de qualquer forma.)
8. O reconhecimento pela sociedade de que cada pessoa, só ou acompanhada, tem o direito de realizar-se num contexto sócio-sexual livre de interferência política, religiosa ou legal; e que é necessário que a sociedade crie mecanismos onde oportunidades de atividades sócio-sexuais sejam criadas inclusive para deficientes físicos, doentes crônicos, presos de cadeias, instituições e hospitais, e também para aqueles em desvantagem pela idade, pela falta de atrativos físicos, ou pela falta de oportunidade social, como pobres e pessoas solitárias. (Todo adulto, não importa a idade, habilidade, condição social ou estado de saúde, tem direito ao conforto e ao prazer do contato sexual com um parceiro consentido.)
9. O direito básico de todas as pessoas adultas, portadoras de disfunção sexual, terem oportunidades de tratamento médico para a sua sexualidade.
10. O direito do controle da concepção.

Fonte: Extraídos do The complete Guide to safe sex by the Senior Faculty of the Institute for Advanced Study of Human Sexuality, ed. Ted McIvenna, M.Div. Ph.D (Beverly Hills, Calif: PreVenT Group/Specific Press, 1987) e comentados no livro Come Hither : a commonsense guide to kinky sex, Gloria G. Bramhe.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

A MULHER MADURA



A mulher madura não se sente velha, mas sim experiente.
Ela não pega: toca suavemente.
Não provoca: já é provocante sem forçar barra.
Não é só inteligente: procura sempre ser sábia.
Não se insinua: mostra o caminho sutilmente.
Não se precipita, espera o momento certo.
Não voa: flutua.
Não pensa em quantidade, prefere a qualidade.
Não vê somente: observa.
Não corre: caminha.
Não dorme: repousa.
Não é pretensiosa: simplesmente se gosta.
Não julga: analisa.
Não compara: assimila o útil.
Não afasta: acalenta.
Não levanta: desperta viva.
Não põe algema: deixa livre.
Não enfeitiça: encanta.
Não é só decidida: sabe o que quer.
Não é exigente: é seletiva.
Não se lamenta: tenta fazer diferente.
Não tem medo: tem receios superáveis.
Não jura: deixa por conta do tempo.
Não tira conclusões: levanta hipóteses.
Não desce do salto: mas tem jogo de cintura.
Não brilha artificialmente: é iluminada.
Não gosta de ser vigiada: prefere apenas ser apreciada.
Não é moderna: é elegante.
Não quer ser cobiçada: apenas desejada.
Não somente gosta: ela AMA.

Autor desconhecido.(adaptado)

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A VIDA E OBRA DO GÊNIO CHARLES CHAPLIN

Gênero: Drama Direção: Richard Attenborough Roteiro: Bryan Forbes, William Boyd, William Goldman Elenco: Robert Downey Jr, Anthony Hopkins, Dan Aykroyd, David Duchovny, Diane Lane, Geraldine Chaplin, Kevin Kline, Marisa Tomei, Milla Jovovich, . Produção: Mario Kassar, Richard Attenborough Fotografia: Sven Nykvist Trilha Sonora: John Barry Ano:1992.


O referido filme retrata a trajetória do inglês Charles Spencer Chaplin (interpretado por Robert Downey Jr.), um dos pioneiros na arte do cinema, recontada desde a sua infância pobre na Inglaterra do final do século XIX e inicio do XX, sua vinda para a América – a terra onde os sonhos se tornam realidades -, a conturbada vida amorosa e as perseguições sofridas por ele por parte do FBI. Os americanos da Inteligência desconfiavam de que Chaplin era comunista pelos posicionamentos críticos e cômicos em relação ás instituições legais. Seu personagem principal – que aliás ele mesmo revela que foi o diferencial na sua trajetória artística -, fazia troça de funcionários da alfândega. Ainda utilizava as imagens da estátua da liberdade que ele põe em evidencia nos seus filmes com a clara intenção de fazer mesmo uma crítica velada á “liberdade” vigiada dos cidadãos. Ele diz em uma cena que ama a América, por isso mesmo tem o direito de criticá-la. Apesar de viver e ganhar muito dinheiro na América, nunca pediu a cidadania americana, e isso se tornou alvo de desconfiança por parte dos vigias da sociedade americana. Chaplin foi um jovem idealista, genioso, extremamente perfeccionista e dedicado ao trabalho e, apesar de ter conseguido muito dinheiro – gostava do conforto e do luxo -, aparentemente não se deixou engolir totalmente pelo mercado de produções de massa. Sua arte foi a primeira a passar pelo seu crivo crítico, resistiu o quanto pode a ascensão dos filmes falados, por acreditar que a imagem desfazia as barreiras entre as gentes, impostas pelos idiomas. Sabia que sua tarefa era fazer os milhares de seres humanos rirem, alimentando as esperanças de dias melhores. Num jantar ele diz claramente que seu desejo era que a sétima arte fosse acessível a todos. Por valorizar amizades com pessoas tidas como “perigosas” ao sistema instituído, sua ficha nas agencias de espionagens americanas era vasta. Quando a Europa se vê assolada pela ameaça nazista, ele pondera que necessita tomar uma atitude em relação aos acontecimentos e se declara totalmente averso ao regime de Adolf Hitler. Quando decide produzir “O Grande ditador”, recebeu duras críticas do seu irmão – que era judeu por parte de pai – e o enfrentou dizendo que gostaria de ele mesmo ter essa honra de ser um judeu. O filme de Chaplin vai ser aclamado depois da segunda grande guerra, provando que ele era um homem que percebia as mudanças do seu tempo a ponto de antecipá-las. Em Tempos modernos ele faz um exercício da crítica ao mostrar o quanto a mecanização do trabalho se estende ao mecanicismo da vida humana, como crítica ferrenha ao modernismo que retira do homem a necessidade de ser pelo de ter. Historicamente falando, esse filme biográfico é uma mostra de como se produz uma história em particular. O personagem do historiador, o homem que escreve mediante os fluxos de memória de Chaplin, cuja memoria coletiva vai tornando-se individual e que é suprimida, selecionada, posta em evidencia de acordo com o propósito daquele que paga para que esse serviço seja assim. E alguns trechos, o escritor lhe pergunta por que não menciona tal fato ou não quer expor tal fraqueza e ele diz que não acha relevante para sua memória póstuma. Até mesmo na sua autobiografia filmada, Chaplin critica o Outro a partir de si mesmo, sendo fiel ao seu espírito transgressor. Essa é um modelo de fazer a História, mostra assim que a ciência tanto pode contribuir para evidenciar aquilo que se quer silenciar, como pode ser utilizada para silenciar aquilo que não interessa aos grupos dominantes, políticos econômicos e ideológicos. Tudo a partir do simbólico das artes, cujo poder de coação e de imposição se sobrepõe até mesmo a da violência física. Essa parte é um exemplo claro do pensamento de Charles Chaplin sobre o mundo e sobre si mesmo, presente no final do filme “O Grande Ditador.” “Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos- se possível- judeus, o gentio…negros…brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que temos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, desviamo-nos dele. A cobiça envenenou a alma dos homens…levantou no mundo as muralhas do ódio…e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios . Criamos a época da produção veloz, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido.

Fonte: http://amizadepoesia.wordpress.com/2007/01/29/o-pensamento-vivo-de-charles-chaplin/ disponível em 17/10/2013

sábado, 2 de agosto de 2014

Série de Mangás favoritos: Sun Ken Rock

Sempre fui uma leitora voraz e apesar de possuir minhas preferências literárias no estilo prosa, desde tenra juventude aprendi a gostar da arte dos mangás. Aprecio sempre a arte de mestres consagrados desse estilo, venho acompanhando a novas gerações que estão surgindo nesses últimos anos. Um desses mangakás que muito aprecio é o Boichi, coreano que reside no Japão, cujo trabalho tenho acompanhado nos últimos dois anos e que é dono de um traço estilístico surpreendente e inovador.
Em sua produção como mangaká, esse oriental esbanja maestria em gêneros que vão desde hentais até ficção científica. Na atualidade acompanho duas de suas revistas editadas no Japão: a Sun Ken Rock e Wallman. A sun ken rock está no arco final e deve terminar em breve. Vejamos algumas das impressões que tenho dessa notável série. O protagonista da história é um jovem japonês (acredito que era para atingir o público alvo) que após perder a família para a organização criminosa conhecida como o Clã do Dragão Branco, passa a ter um comportamento rebelde e agressivo. A escola que ele frequentava parecia um internato para alunos de família que possuía algum poder aquisitivo. No obstante Ken Kitano não possui passado e nem futuro. Nessa escola ele conhece Yumin, uma garota que nada mais é que a filha única (sobrevivente) do chefe do clã do Dragão Branco Ryu Yoshizawa, o mandante da morte dos pais do Ken. Como Yumin é uma garota de acentuada beleza e demonstra algum interesse por ele, Ken a corteja, mas é rejeitado. Yumin vai para a Coreia e constrói uma carreira como policial e depois de um certo tempo Ken a ver numa reportagem e decide ir a Coreia para tornar-se um policial também. Só que o destino de Ken parece traçado: ele não consegue o que almeja, se deprime, e se não fosse a paciência do dono do apto em que mora aceita-lo mesmo sem receber o pagamento e um velho que lhe fornece comida, ele estaria perdido. Ken é convidado por um jovem mafioso e de percepção aguçada para negócios escusos chamado Tae Soo Park, para fazer parte de uma Gondal(gangue). A principio, Ken recusa, mas devido as circunstâncias, resolve aceitar. Dentro dessa história que tem no Street Fight seu eixo de sustentação, o autor dá voz a suas reflexões sobre política, Estado, Xenofobias, heterogenia do mundo asiático, com muito humor e erotismo. Perpassa as leituras, os filmes, a visão de mundo de um homem e o seu tempo. O visual dos personagens de ambos os gêneros é o que de cara me impressiona. Mulheres voluptuosas, homens belíssimos de traços longilíneos, coisa rara em mangás. Os olhos são peculiares sem aquele exagero de tamanho muito comum nos mangás voltados para jovens. Uma arte adulta que impressiona e consegue surpreender até os mais céticos a respeito do gênero.
Depois de 143 níveis, Sun Ken Rock se aproxima do seu clímax e suspeito que o protagonista morrerá. Mas a essência do personagem é a mesma. O que Ken queria era viver uma vida normal e ter a garota dos seus sonhos. Pelo menos a segunda parte ele realizou. Espero que Boichi saiba concluir essa maravilhosa série que tantas alegrias me deu. Se você é um leitor com melindres e excesso de conservadorismo, não leia. Sun Ken Rock é para os fortes. Você encontra em alguns sites a série e aqui no link na integra. http://sunkenrock.com/

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Resenha sobre o filme Hannah Arendt

FICHA TÉCNICA Gênero: Drama Direção: Margarethe Von Trotta Ano:2012 Roteiro: Margarethe Von Trotta Elenco: Axel Milberg, Barbara Sukowa, Claire Johnston, Friederike Becht, Gilbert Johnston, Harvey Friedman, Janet McTeer, Julia Jentsch, Klaus Pohl, Megan Gay, Michael Degen, Nicholas Woodeson, Nilton Martins, Sascha Ley, Tom Leick, Ulrich Noethen, Victoria Trauttmansdorff. Produção: Bettina Brokemper, Johannes Rexin Fotografia: Caroline Champetier.


O filme Hannah Arendt, cujo título é o nome da filósofa judia, dá nome ao filme de Margarethe von Trotta. Ela é autora de uma das obras filosóficas mais importantes do século 20, tendo relevância fundamental para ajudar na compreensão de quem foi essa pessoa que trata o filme, bem como sua importância para a ciência enquanto campo de conhecimentos que progride mediante aqueles que ousam extrapolar as fronteiras do estabelecido. O filme retrata a personagem principal, enfatizada como uma pessoa comum, professora envolvida com seu trabalho acadêmico, suas aulas e pesquisas. Ela não é um ser ficcional e sim uma mulher que existiu na realidade e que marcou seu nome na História como uma pensadora do seu tempo. Mais que isso: ela ousou questionar toda a ordem de discursos sobre o tema do nazismo, a tônica do filme, mais precisamente os crimes de guerra. O tempo representado é o período em que Hannah Arendt escreveu seu polêmico Eichmann em Jerusalém. Nos anos 50 – quando começa propriamente a ação do filme – já escritora e professora consagrada, Hannah recebe a notícia da prisão do criminoso de guerra Adolf Eichmann, que será julgado em Israel. Ela fica, então, fascinada com a possibilidade de assistir pessoalmente o julgamento, e se oferece como correspondente da revista “New Yorker” para empreender a viagem. Por quê? “Por que nunca vi um nazista frente a frente”, diz ela. Os problemas começam quando Hannah, na contramão da opinião pública, passa a defender a ideia que Eichmann não é esse monstro que a mídia pinta, mas apenas um funcionário burocrata de Hitler, incapaz de pensar por si só, que não pode ser responsabilizado pelo Holocausto. E mais: questiona o motivo de vários líderes judeus terem colaborado com o Nazismo. Como sempre acontece com as opiniões que ousam ir contra a corrente, a opinião pública prefere julgar e condenar com ódio e rigor a ouvir os prováveis outros lados da questão e foi isso que a motivou a escrever o livro cujo conteúdo foi tomado por muitos como um escândalo; uma análise reflexiva sobre Adolf Eichmann, o carrasco nazista capturado na Argentina e julgado em Jerusalém em 1962. Esperava–se que esse homem que fosse um monstro, um ser maligno, um louco, cruel e perverso. A percepção de Arendt acerca do caráter desse personagem histórico, de sua postura comum que o fazia igual a tanta gente, causou mal estar. Foi justamente a postura de Eichmann que permitiu a Arendt cunhar a ideia tão curiosa quanto crítica relativa à “Banalidade do mal”. Por banalidade do mal, ela se referia ao mal praticado no cotidiano como um ato qualquer. Muitas pessoas interpretaram a visão de Arendt como uma afronta à desgraça judaica, enquanto ela – filósofa descomprometida com qualquer tipo de facção, religião, partido ou ideologia – tentava entender o que realmente se passava na cabeça de um homem como Eichmann, um medíocre que só recebia e obedecia as ordens enviadas por seu estado maior sem nem por um minuto questioná-las. Hannah Arendt não tomava sua condição de judia como superior à sua posição como pensadora, comprometida com a compreensão de seu tempo. A condição judaica era, para ela, condição humana. Não menos, não mais. O problema da subjetividade, das escolhas éticas que implicam liberdade e responsabilidade, era a questão central no momento em que se tratava de pensar e realizar a política. E como discípula de um conhecido transgressor chamado Martin Heidegger, filósofo alemão, muito reconhecido pela recolocação do problema do ser e pela refundação da Ontologia, pela importância que atribui ao conhecimento da tradição filosófica e cultural, não deixou de fazer o exercício solitário de pensar sobre a questão do que faz um ser como Eichman se tornar um comissário de mortos inocentes na máquina da “solução final” dos nazistas no caso dos judeus mortos durante o holocausto do século XX. No filme, fica claro que aqueles que se manifestaram furiosos ou ofendidos contra a tese de Arendt de fato não a compreenderam. Isso porque a tese de A banalidade do mal é uma tese difícil, não por sua lógica, mas por seu caráter performativo. Aquele que é confrontado com ela precisa fazer um exame de sua consciência particular em relação ao geral e, portanto, de seus atos enquanto participante da condição humana. A banalidade do mal significa que o mal não é praticado como atitude deliberadamente maligna. O praticante do mal banal é o ser humano comum, aquele que ao receber ordens não se responsabiliza pelo que faz, não reflete, não pensa. Eichmann foi caracterizado por Arendt como uma pessoa tomada pelo “vazio do pensamento”, como um imbecil que não pensava, que repetia clichês e era incapaz de um exame de consciência. Heidegger, o filósofo nazista que diz ter se arrependido de aderir ao regime, era, no entanto, um gênio da filosofia e, contudo, não era diferente de Eichmann. Aterrador, no entanto, é que entre Eichmann, o imbecil, e Heidegger, o gênio, esteja o ser humano comum. Eichmann não era diferente de qualquer pessoa, era um simples burocrata que recebia ordens e que punha em funcionamento a “máquina” do sistema, do mesmo modo que cada um de nós pode fazê-lo a cada momento em que, liberado da reflexão que une, em nossa capacidade de discernimento e julgamento, a teoria e a prática, seguimos as “tendências dominantes” como escravos livres, contudo, de si mesmos. Sair da banalidade do mal é fazer a opção ética e responsável na contramão da tendência à destruição que convida constantemente cada um a aderir. A banalidade do mal é, portanto, uma característica de uma cultura carente de pensamento crítico, em que qualquer um – seja judeu, cristão, alemão, brasileiro, mulher, homem, não importa – pode exercer a negação do outro e de si mesmo. Em um país como o Brasil, em que a banalidade do mal realiza-se na corrupção autorizada, na homofobia, no consumismo e no assassinato de todos aqueles que não têm poder, seja Amarildo de Souza, seja Celso Rodrigues Guarani–Kaiowá, uma parada para pensar pode significar o bom começo de um crime a menos na sociedade e no Estado transformados em máquina de morte institucionalizada. A utilização de cenas reais do julgamento é um recurso brilhante e forte. Estilisticamente, tudo é muito simples, com planos e contraplanos corriqueiros e enquadramentos televisivos. Mas não é isto que importa, e sim, reconhecer a coragem desta mulher que ousou formular uma fascinante “Teoria da Maldade”, por meio da qual as grandes atrocidades da história da Humanidade são cometidas não exatamente pela crueldade humana, mas por males ainda maiores, como a omissão e a incapacidade de pensar.


REFERENCIAS: http://revistacult.uol.com.br/home/2013/09/hanna-arendt/ http://www.planetatela.com.br/cri.php?cri_id=656 http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Heidegger

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Filme O óleo de Lourenzo

O filme aborda a história baseada em fatos reais, de um casal de historiadores que descobrem em seu filho Lorenzo de 5 anos, uma doença rara e degenerativa diagnosticada como adrenoleucodistrofia (ADL), que provoca uma incurável degeneração do cérebro, levando o paciente a morte em pouco tempo. Após a descoberta dessa doença em Lorenzo, seus pais acabam vivenciando a frustração da falta de medicamentos e terapias para a doença e o quase total desconhecimento por parte dos médicos em relação á essa moléstia que datava de pouco mais de dez anos de descoberta. Quando obedecem as orientações dos médicos e não percebem nenhum tipo de progresso no quadro clínico de Lorenzo, eles decidem agir por conta própria e procurar, eles mesmos, uma solução. A partir da constatação que em no máximo três anos o menino faleceria, eles começam a estudar e pesquisar sozinhos na esperança de encontrar alguma substância que pudesse amenizar ou conter o avanço da doença. A mesma estava destruindo progressivamente o cérebro de Lorenzo deixando-o cego, deficiente físico, incapaz de engolir e de se comunicar. Os pais de Lorenzo buscam em bibliotecas, fazendo um estudo do caso de seu filho, e quando constatavam alguma informação relevante, procuravam médicos e professores de medicina para discutir suas ideias a fim de encontrar algo que amenizasse o sofrimento do garoto.
Interessante perceber que os profissionais, que faziam as pesquisas sobre a doença, estavam separados entre si por nacionalidades diferentes e falta de comunicação. Assim sendo, não poderiam ter uma ideia do “todo”. Para sanar essa problemática, Augusto e Micaela decidem procurar recursos para patrocinar o I simpósio sobre ADL, com vistas a reunir os pesquisadores em torno das soluções para os impasses científicos envolvendo a doença.Podemos constatar que, em alguns momentos históricos, o conhecimento científico se torna uma fonte passível de questionamentos uma vez que não responda ás demandas pelas quais existem.
Seria necessário romper com os paradigmas previamente estabelecidos por uma tradição, que muitas vezes “caduca” em relação aos avanços das necessidades humanas. O filme “O Óleo de Lorenzo” ao contemplar em seu enredo os aspectos e fundamentos do conhecimento científico, demonstrando a investigação científica como um recurso de aderência de respostas e soluções que justificam/explicam um determinado problema, permite-nos compreender, de forma emocionante, que as verdades universais não são absolutas, sendo passíveis de mudanças. Diante disso, pode-se afirmar que a descoberta do óleo de Lorenzo como uma forma de tratamento para a Adrenoleucodistrofia, firma a mutabilidade das verdades universais, permitida pelas pesquisas científicas, como um meio de se conquistar avanços científicos e mais que isso, como um meio de amenizar sofrimentos e poupar vidas.
Nessa busca pela cura, os pais de Lorenzo encontraram diversas barreiras por serem leigos no assunto e o próprio preconceito, por não terem formação na área específica, como se o conhecimento ficasse restrito aqueles que estavam atuando na dita área, no caso, biomedicina. Encontram resistência da parte de todos: da associação de pais de portadores de ADL na divulgação das informações a respeito dos resultados das pesquisas obtidas, dos médicos que refutam os resultados porque alegam que não tem a quantidade de testes suficientes – Micaela e a irmã dela(a mãe e a tia de Lorenzo) foram os “ratos” de teste das fórmulas encontradas para a pesquisa. Assim, depois de muitos estudos, pesquisas e testes, além de ajuda de terceiros, os pais de Lorenzo descobriram o óleo, que não curava efetivamente a doença, mas que estagnava a mesma. Com o uso desse óleo, Lorenzo não voltou ao seu estado normal pela perda enorme de mielina ocorrida durante o tempo em que a pesquisa não terminava, porém a progressão da enfermidade cessou. Com o uso do óleo, Lorenzo alcançou uma qualidade de vida significativa e seu pai desenvolveu uma tese de doutorado na área de medicina, mostrando o quanto um conhecimento estabelecido como “canônico” pode vir a ser abolido por outro que possa ser produzido. O filme é verdadeira lição de vida, pois pessoas leigas que ao verem o sofrimento de seu próximo, no caso seu filho se sensibilizaram e começaram a buscar, por meio dos conhecimentos existentes, construir um novo conhecimento, enfrentaram preconceitos e barreiras, mas que venceram pela irrefutabilidade da persistência e da comprovação dos resultados. Vidas no mundo inteiro foram beneficiadas com o ato de coragem dos pais de Lorenzo.

Impressões de leitura da obra O Retrato de Dorian Gray de Oscar Wilde.




Li esse livro na adolescência e agora ao relê-lo, talvez pela idade e experiência vivida, pude compreender diversas coisas que naqueles dias não consegui atinar direito. A história é muito densa e o lado psicológico do leitor, pelo menos o meu, ficou cativado desde o inicio da narrativa. Dorian era um rapaz atencioso, gracioso e afável, e com um caráter sutil e cativante. Tamanha era sua simpatia e beleza que acabou fascinando o pintor Basil Hallward. Sua adoração pelo jovem foi tamanha que ele resolveu imortalizá-lo em uma de suas pinturas. Segundo o próprio artista, o retrato de Dorian seria sua obra prima, seu clímax como artista. Ele tinha por Dorian um sentimento que sobrepujava qualquer interesse financeiro, era uma espécie de idolatria e amor. Basil tecia tantos elogios e falava tanto sobre Dorian que acabou deixando Lorde Henry intrigado sobre quem seria esse extraordinário modelo de Basil. Na leitura fica óbvio que tudo o que Basil sente por Dorian era tão profundo e arrebatador que não tinha definição, percebe-se pelo teor de suas palavras, sua maneira de falar, seus anseios, ele ficou arrebatado, pintava com loucura devotada na presença do lindo Dorian, sentia por ele um amor que transbordava da sua obra. Por isso ele demonstra que não quer expor o quadro, pelo mesmo ter muito de si para revelar. Então Dorian é apresentado a Henry, que com sua astúcia logo adquire um interesse pelo rapaz e sua formosura. Contudo a sua natureza hedonista e a capacidade de persuasão acabaram por despertar os desejos concupiscentes de Dorian, maculando sua natureza bela e infantil. Dorian passa a ver o lado fútil da vida e deseja ardentemente que a sua beleza física dure eternamente.
Certamente não podia deixar de apreciar o belo e gracioso jovem que via a sua frente.[...] As mãos mesmo, suas mãos frescas e brancas, lembrando flores, possuíam um encanto curioso. Tal como a voz, elas pareciam musicais, pareciam ter uma linguagem particular. Atemorizava-se e era vergonhoso temer...” [fluxo de consciência de Dorian Gray, p. 30)
Enquanto Basil apresenta o quadro finalizado e ele mesmo se reconhece como um ser seráfico nele, Dorian faz uma prece com todo o ímpeto, expondo o desejo de nunca ficar velho e feio, de nunca perder a beleza etérea e tocante que tanto lhe faz ficar famoso e bem aceito aos olhos da sociedade que agora ele pertence. Lorde Henry, torna-se amigo de Dorian e com os conselhos e suas ideias acaba seduzindo e conduzindo o moço a um caminho sem volta. Acrescento aqui que isso foi possível porque o próprio Dorian tinha represado anseios referentes aos seus impulsos sexuais e o Henry, sabendo disso, não se envergonha de utilizar isso em benefício próprio.
somos punidos pelo que negamos. Cada impulso que tentamos sufocar persevera em nosso íntimo e nos intoxica. O corpo peca, a principio e se satisfaz com o pecado, porque a ação é um modo de purificação. [...] só quando cedemos a tentação, nos desembaraçamos dela. Procure resistir e sua alma há de aspirar doentiamente a tudo do que quiser preservar-se, com a agravação do desejo por aquilo que todas as leis monstruosas tornaram ilegal e monstruoso.[...] O senhor Mr. Gray, com a sua candente mocidade e a sua cândida infância, há de ter tido paixões que o terão espantado, pensamentos que o encheram de terror, dias de sonho e noites de sonho que, simplesmente recordadas, bastarão para fazer subir o rubor ás faces... (Fala de Lorde Henry, p. 28)
Nos tempos que se seguem ao estreitamento da amizade de Dorian e Henry, que lhe apresenta a toda a sorte de deleites e excessos, Dorian Gray perde completamente a noção da moral que permeia as relações sociais da Inglaterra do fim do XIX e aquele jovem puro com índole quase infantil é submergido numa poça de lama mundana.
Ele tentaria dominá-lo, como aliás , já havia feito. Faria seu esse ser maravilhoso. Havia qualquer coisa de fascinante nesse filho de Amor e de Morte.( fluxo de consciência de Lorde Henry., p. 44)
Esse novo mundo que Dorian frequenta, numa noite de inquietação, passeando pela parte suburbana e marginal da cidade e num teatro vagabundo ele conhece Sibyl Vane, uma atriz de terceira categoria que interpreta algumas personagens famosas. Ele se apaixona por ela, sua atuação o enfeitiça. Ele se impressiona tanto com a moça que por noites seguidas vai vê-la nas apresentações, sentindo-se o mais apaixonado dos homens. Ele cria coragem e se declara para Sibyl e o seu amor é correspondido. Perdido de paixão do que acredita ser o seu primeiro amor, fica noivo da jovem. Mas Dorian busca sempre a aprovação das pessoas. Ele precisa que a garota e seus amigos (principalmente Lorde Henry) se conheçam e que eles a possam a aprovar enquanto atriz. Porém, a situação sai do controle quando ele leva os amigos para vê-la representar e justo nesta noite, muito nervosa, ela atua bem abaixo de seu talento habitual, justamente porque se encontrava afetada pelo amor que sentia por ele. Os amigos saem do teatro e Dorian decepcionado com a noiva a trata de forma cruel, devastadora. Wilde descreve com tanta maestria todo o fervor das palavras de Dorian que arranca de qualquer mulher, um ódio profundo e a vontade de revidar ao tratamento desumano a que é submetida Sybil. A derrota completa de Dorian se dá no momento em que, outra vez, se deixa levar pelos argumentos absurdos de Henry e sem qualquer sentimento de remorso, trata o assunto da morte de Sibyl como se fosse mais uma encenação teatral. A moça arrasada com tudo que ouve de Dorian, bem como seu completo desprezo, se suicida.
"Você foi a Ópera?”, repediu Hallward, falando devagar, com um traço tenso de dor na voz. “Você foi a Ópera enquanto Sibyl Vane jazia morta em um aposento sórdido? Você consegue falar sobre o encantamento de outras mulheres e sobre Patti ter cantado divinamente antes que a mulher que você amava tivesse ao menos a paz do túmulo para dormir? Ora, homem, o pequeno e pálido cadáver de Sibyl há de enfrentar os piores horrores. (P. 128)
A partir desse tempo da narrativa, ele que já havia percebido mudanças no retrato pintado por Basil, percebe que o quadro começa assumir fisionomia cruel e pestilenta, ou melhor, a cada mudança da personalidade de Dorian, o quadro se deteriorava. Ele mesmo em si, está cada vez mais viçoso e esplêndido, participa de situações das mais devassas, frequenta lugares sombrios e proibidos para um jovem cavaleiro como ele e um lugar específico das docas onde consome ópio.O tempo parou para ele, não envelhecia e nenhuma ruga manchava seu rosto magnífico, mas o quadro escondido por ele mesmo numa saleta de sua mansão da qual só ele tinha a chave, exalava o odor pútrido de todas as maldades e loucuras cometidas por Gray. Para Dorian o importante a partir daquele momento é que mesmo cometendo todos os pecados e indecências inimagináveis, sua aparência continuaria sendo a do rapaz lindo e imaculado, enquanto o quadro assumiria toda a podridão de sua alma. Ele se torna ainda mais cruel após ler um livro enviado por Henry e o mundo passa a ser um parque de diversões e de devassidão. Nada importa, já que sua beleza continuará imutável. Somente ele sabia o que escondia o quadro e que esse objeto é o que protege seu segredo de juventude eterna. Mas até quando seu corpo e sua alma aguentariam tantas mentiras? até quando a libertinagem saciaria Dorian? Nesse parecer, O retrato de Dorian Gray é um livro filosófico, pois cada página nos mostra o motivo pelo qual foi tão mal visto na época que foi escrito. A cada frase você percebe a luta do autor em falar de sua homossexualidade, de seus desejos no mínimo excêntricos. Não só isso, seria muito injusto falar que Oscar Wilde escreveu essa obra para simplesmente chocar as pessoas sobre suas escolhas sexuais. Em minha opinião fica intrínseca a vontade do autor de mostrar ao mundo como o ser humano pode mudar em função da opinião das outras pessoas. A mudança gritante da personagem principal, de moço ingênuo para um homem cruel e sem moral nos faz perceber que a essência humana é frágil. Refleti com Oscar Wilde sobre os diversos caminhos pelos quais perambula o pensamento filosófico, retratando o antagonismo entre o belo e o feio, o sexo é tratado de maneira velada, no encostar da cadeira, no toque sutil do braço, etc. mas tudo tem um sentido de uma maneira louca.
Ele teria de resto um verdadeiro prazer em observar a transformação. Poderia acompanhar seu espírito pelos pensamentos secretos: o retrato lhe seria o mais magnífico dos espelhos. Como já lha havia revelado o próprio corpo, também lhe revelaria a própria alma. E quando sobre o mesmo quadro se exibissem os efeitos do inverno da vida, nele , seu modelo vivo, resplandeceria a trêmula auréola da primavera e do estio. Quando o sangue lhe viesse a face, deixando atrás uma máscara lívida de giz, ele guardaria o fulgor da adolescência.[...] Uma hora mais tarde, achava-se na ópera, onde Lorde Henry se apoiava ao encosto de sua poltrona” p.106
Percebi esses sentidos porque imaginei o próprio autor escrevendo todas as suas aflições, colocando no personagem tudo aquilo que estava vivendo. Tudo que a sociedade daquela época determinava e vivenciava, mas seria só naquela época? Deixo essa interrogação. Apesar de ter alguns títulos publicados, O retrato de Dorian Gray foi o mais famoso livro publicado de Oscar Wilde, que passou dois anos encarcerado, após perder um processo por difamação contra o marquês de Queensberry, pai de Lorde Alfred Douglas por quem ele era perdidamente apaixonado. Após ser posto em liberdade, exilou-se. Wilde morreu em Paris em 1900 na miséria. Quando anos depois, num encontro nas docas, o irmão de Sibyl Vane, James Vane, ouve que ali está o “príncipe encantador”, sai para matar o homem que seria o motivo do suicídio de sua irmã. Mas Dorian mostra que é belo e jovem, não poderia ser o homem que ele procurava. Depois de confirmar que é ele mesmo, Vane vai buscá-lo em uma área de caça de lordes e acaba morto. O destino parece conspirar á favor do belo Dorian. A relação amorosa que ele manteve com Alam Campbell e com a qual faz a chantagem para que o jovem químico (que posteriormente se mata pela vergonha do que fez) dê fim ao corpo de Basil, assassinado pelo próprio Gray é um momento fortíssimo do romance, mostrando a falta de escrúpulos por parte de Dorian. Ele não só se corrompe: ele corrompe também á sua volta. O ódio maior que ele teve de Basil foi por este ter dito o quanto perverso, sem moral e sem escrúpulos ele tinha se tornado. A condição de Dorian, um homem altamente sexual, evidencia-se também pelo gosto de relacionamentos com o mesmo sexo — além de formas heterossexuais de afeto, acrescenta-se a homossexualidade. O que parecia um prazer eterno, reflete uma maldição? A pintura concebe aflição no homem que vê que a beleza não é tudo, nem mesmo o sexo desnorteado — o Dorian aflige-se com seus traços perfeitos, numa vida firmada na mais banal superficialidade da existência vazia. E seu retrato exprime todas as marcas do tempo, do seu comportamento negro ao longo da narrativa. O autor Oscar Wilde desmascara sua sociedade imersa em hipocrisia e perversões de intrigas sociais e sexuais, um estudo sobre a dualidade da prática do mal e da autoconsciência; da sexualidade e de uma ilusão de beleza que nunca é eterna. O final não poderia ser mais perfeito: o belo Dorian se volta para destruir de vez a obra que lhe serve como espelho e assim põe fim ao seu atormentado e perverso caminho. Só foi reconhecido pelos anéis que usava quando seus empregados foram investigar a origem do grito que ouviram no transcorrer da noite e encontram o cadáver deformado de seu senhor. Referências: WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Trad. João do Rio. São Paulo: Martin Claret, 2009. http://www.mixliterario.com/2012/12/resenha-o-retrato-de-dorian-gray-oscar.html#.UxoeA7O2TIU http://vivianeblood.blogspot.com.br/2013/08/resenhas-o-retrato-de-dorian-gray-oscar.html http://apimentario.blogspot.com.br/2010/11/o-pornografo-envaidecido.html

terça-feira, 1 de julho de 2014

Resenha sobre a produção cinematográfica de Alexandre o Grande -2004

          
FICHA TÉCNICA
TÍTULO ORIGINAL: Alexandre DIRETOR: Oliver Stone GÊNERO: Drama. ANO: 2004. 
 PAÍS: USA DURAÇÃO: 135 min.
ELENCO:  Aleczander Gordon, Angelina Jolie, Anjali Mehra, Annelise Hesme, Anthony Hopkins, Anthony Jean Marie Kurt, Benny Maslov, Bin Bunluerit, Brian Blessed, Brian McGrath, Chris Aberdein, Christopher Plummer, Colin Farrell, Connor Paolo, David Bedella, Denis Conway, Elliot Cowan, Erol Sander, Féodor Atkine, Fiona O'Shaughnessy, Francisco Bosch, Garrett Lombard, Gary Stretch, Gillian Grueber, Harry Kent, Ian Beattie, Isaac Mullins, Jaran Ngamdee, Jared Leto, Jean Le Duc, Jessie Kamm, John Kavanagh, Jonathan Rhys-Meyers, Joseph Morgan, Kate Elouise, Laird Macintosh, Leighton Morrison, Marie Meyer, Marta Barahona, Matthew Powell...
ROTEIRO: Christopher Kyle, Laeta Kalogridis, Oliver Stone.


O filme em questão começa com o velho Ptolomeu (Anthony Hopkins) sendo o narrador das conquistas e derrotas do personagem histórico vivido por Colin Farrell. Desde a tenra infância, ele foi criado por sua mãe, Olímpia (Angelina Jolie), entre cobras, literalmente. Casada com o rei da Macedônia Felipe II (Val Kilmer), ela é considerada uma bruxa graças ao temperamento forte e seus répteis de estimação. Por não ser uma mulher macedônica, a origem “bastarda” de Alexandre vai-lhe ser lançada em rosto no conflito desencadeado pelo segundo casamento do pai.
Alexandre cresce fascinado por duas coisas que sempre permearam sua existência: a geografia do Velho Mundo e os rapazes. Os ensinos de seu mestre prognosticavam que quando homens deitam juntos por luxúria, ocorria a corrupção. Mas se isso ocorresse por troca de conhecimento e virtude (sêmen) então era considerado um ato puro e excelente. A visão sobre o que hoje consideramos homossexual não possuía a conotação bestial e pejorativa que nossa sociedade ocidental adotou. Porém é importante ressaltar que havia regras para que isso ocorresse. Não podia ser somente uma satisfação dos sentidos. Deveria ser algo mais “excelente”. Interessante esse debate em que o ciúme e o desejo de vingança de Aquiles pelo seu amante obscureceu seus demais atos comprometendo a batalha referida na discussão do velho mestre com os seus pupilos. 
Nas arenas de luta infantil, Alexandre conhece seu primeiro amor: o belo e exímio lutador Heféstio por quem nutre uma longa e duradoura relação homo afetiva. Devido á sua preferência por esse jovem, sua mãe (a sagaz Olímpia) o pressiona para que, aos 19 anos, escolha uma mulher mecedônica para casar e procriar, garantindo assim o seu direito como sucessor de Felipe II. Percebe-se que a mãe sabe dos sentimentos do filho, porém ela é enfática ao dizer-lhe que ele deveria fazer distinção entre os sentimentos e os deveres. O fato de as mulheres comentarem que ele não as apreciava, deixava “brechas” para oposições a sua ascensão ao trono. Mais uma vez vemos que as relações de cunho sexual e afetivo passavam pelo crivo das convenções e que apesar de aparentemente toleráveis, deveriam se restringir as esferas privadas.  
Aos 20 anos, Alexandre começou sua jornada pelas terras conhecidas pelo homem antigo, primeiramente levando seus soldados rumo à Ásia para libertá-la dos domínios persas. Quando se apossa dos domínios de Dario, bem como do seu harém, o que lhe desperta a atenção é a presença de um homem travestido no meio das mulheres. Esse viria a ser seu serviçal pessoal, Bagoa. Nesse universo oriental em que Alexandre se propôs a explorar, ele conheceu aquela que seria sua esposa, Roxana. Não á toa uma mulher bárbara, reflexo de sua ligação íntima com sua mãe, mulher extremamente dominadora com quem mantinha uma dependência psicológica fortíssima e arrisco-me a perscrutar se ele não sentia algo de edipiano pela mesma.  
Apesar de casar-se (diga-se de passagem, contra a vontade do conselho militar que somente queria que fosse uma mulher de origem nobre e macedônica, outro preconceito sofrido pela sua mãe ao qual parece que ele queria exorcizar) e coabitar com a dama, desejando assim trazer á luz um herdeiro, ele parece mais feliz com seu antigo amante, Heféstio (Jared Leto), fiel a Alexandre até a morte. Na noite de núpcias em que a mulher o encontra com o amante, ele confessa que o ama e que por isso poderia ela matá-lo. Dessa forma ele desnuda sua alma para a mulher, que aparentemente compreende o tormento do coração de Alexandre. Nas palavras do personagem, não sabemos se ele disse isso, mas poderia ter dito "há muitas formas de amar". Ele estava cumprindo seu dever enquanto soberano. Isso deveras incomodou os expectadores latino-americanos porque, em nossa cultura, a homossexualidade aparece como uma mancha na valentia do guerreiro.
Nos Estados Unidos e no Brasil, a recepção a Alexandre foi debaixo de uma enxurrada de críticas. Havia um verdadeiro desconforto ao ver uma relação entre Alexandre e Heféstio (nada de conteúdo explicito, somente subjetivo) e a relação dele com o rapaz do harém, o Bagoa. Por trás da acidez das críticas, está sobretudo a dificuldade de aceitar que um herói, cuja ambição e coragem são míticas, não coincida com o estereótipo dominante da virilidade. Pergunta inquieta: quem será o macho e quem será a fêmea do casal? Como fica se ambos são valentes e guerreiros? Além disso, apaixonar-se por uma mulher já é frescura, imagine se for por outro homem. 
Alexandre tinha uma relação "especial" com Olímpia, sua mãe (que assassinou o marido para que Alexandre se tornasse rei). Essa relação quase incestuosa entre Alexandre e Olímpia corresponde ao entendimento comum das causas da homossexualidade. Desde Freud, pensa-se que a homossexualidade masculina seja efeito de um excessivo apego a uma mãe exageradamente protetora. Isso passa a ser visto como um lugar comum visto que as questões envolvendo a sexualidade abarcam fatores complexos e ainda desconhecidos como no campo da biologia, da psicologia e de fatores fenotípicos, etc.. Ninguém pode cientificamente afirmar que, segundo esse pressuposto da influência materna, quem é "fresco" deve ter crescido ao abrigo das saias maternas. Seja como for, essa foi  mais uma razão de mal-estar para os heterodoxos de plantão: o herói guerreiro, além de relacionar-se com Heféstio, era um filhinho da mamãe. Isso é erro crasso que precisa ser evitado.
No tempo em que Alexandre vivia, os sentimentos e as práticas sexuais dele não comprometiam sua virilidade guerreira. A cultura da Grécia antiga admitia um tipo específico de relacionamento homossexual: o amor de um homem (entre 20 e 40 anos) por um jovem (no tempo da puberdade). Na relação, o jovem oferecia devoção e satisfação sexual e ganhava em troca, além do afeto, uma educação moral, intelectual e espiritual. Fora desse quadro, na Grécia antiga, as relações entre homens não eram encorajadas, mas não eram propriamente objeto de censura. Ser "macho" não dependia da escolha do sexo do parceiro. Aquiles, o guerreiro exemplar, além de amores com escravas, tinha uma paixão pelo amigo Pátroclo (também nobre guerreiro). Alexandre vivia seu amor por Heféstio como a réplica do amor entre Aquiles e Pátroclo. 
Os imperadores, por exemplo, dispunham de um paedagogium imperial, cuja função oficial era de servir como escola para jovens que se destinavam ao serviço público, mas que se tornou, às vezes, uma espécie de harém de meninos. Mesma coisa para os amores viris entre Aquiles e Pátroclo: os romanos entenderam a coisa como um vale-tudo. 
Aos 20 anos, Alexandre assumiu o trono da Macedônia, no norte da Grécia de hoje. Nascido em 356 a.C., desde pequeno manuseava lanças, virando chefe de exército antes dos 18 anos. Mas não era um bruto. Nas crises, repetia a Ilíada, o poema de Homero sobre a guerra de Tróia. Não por acaso, discutia literatura, ética e metafísica com desenvoltura: foi discípulo de Aristóteles, um dos maiores pensadores da humanidade. No início do governo, o desafio era derrotar o Império Persa. Ambicioso, superou as expectativas dos súditos e, em 12 anos de lutas, criou uma superpotência ao tomar conta de 90% do mundo então conhecido, expandindo o seu império até a Índia  e a Ásia. 
Fundou 70 cidades, fomentou o comércio e a troca de culturas. Tanto que incentivou o casamento de seus auxiliares com asiáticas, escolhendo a iraniana Roxana para esposa. Caso julgasse necessário, era impiedoso, mas se notabilizou por transformar adversários em aliados e por conduzir os soldados com carisma. Porém, o que desejava mesmo era ser adorado como um deus. A certa altura, deixou de ouvir seus oficiais, perdeu apoio e começou a abusar do álcool. Ao seu lado, permanecia o amigo Heféstio, que se excedeu no vinho até a morte. Alexandre chorou por dias a perda do amado. Com a saúde debilitada pelas guerras, acabou morrendo depois de uma bebedeira, numa festa que durou cinco dias. Tinha 32 anos e não deixou herdeiros, mas seu legado desdobrou-se no surgimento do Império Romano e na expansão do cristianismo. 

 
 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Resenha do filme clássico "E o vento levou"


FICHA TÉCNICA
Gênero: Drama                Direção Victor Fleming     Ano:1939                Roteiro: Sidney Howard
Elenco: Alicia Rhett, Ann Rutherford, Barbara O'Neil, Butterfly McQueen, Cammie King Conlon, Carroll Nye, Clark Gable, Cliff Edwards, Eddie "Rochester" Anderson, Eric Linden, Evelyn Keyes, Everett Brown, Fred Crane, George Reeves, Harry Davenport, Hattie McDaniel, Howard C. Hickman, Irving Bacon, Isabel Jewell, J.M. Kerrigan, Jackie Moran, Jane Darwell, Laura Hope Crews, Leona Roberts, Leslie Howard, Lillian 
Kemble-Cooper, Louis Jean Heydt, Marcella Martin, Mary Anderson, Mickey Kuhn, Olin Howland, Olivia de Havilland, Ona Munson, Oscar Polk, Vivian Leigh....

O filme trata especificamente o período compreendido pelo acontecimento da Guerra Civil Americana ou Guerra da Secessão (1861 - 1865), entre o Sul (Confederados) e o Norte do país (Yanques). As diferenças entre esses dois polos do país se explica,  em grande parte,  pela forma inicial de colonização das duas regiões, sendo que no norte se praticou uma ocupação de permanência, onde os colonos tinham o objetivo de fazer das terras que ocupavam sua morada definitiva. No sul, o sistema colonial escolhido foi de predomínio das grandes propriedades dedicadas á monocultura (plantation),com a utilização de mão de obra escrava (já extinta no norte).
Numa dessas fazendas do sul, nasce a voluntariosa Scarlett O´Hara (Vivien Leigh), uma garota bem nascida, branca, de família iminente na região, descendente de irlandeses por parte de pai, que coleciona pretendentes. Porém Scarlett é apaixonada por um homem que, não obstante ser um igual em origem, é comprometido por laços sociais ao matrimônio com uma prima (Melanie). Apesar de amar Scarlett, Ashley sente que não poderia casar-se com ela, por serem diferentes e sentir nela uma diferença comportamental já notória para um compromisso duradouro.
Com o advento da guerra, Ashley casa-se as pressas com Melanie, e Scarlett para não ficar atrás, casa- se com o irmão de Melanie para manter-se próxima de Ashley. Nessa primeira parte do filme, podemos perceber no comportamento de Scarlett, a transgressão total do papel feminino imposto pela sociedade da época: Ela mente, articula estratégias para manter-se próxima do seu objetivo, declara-se abertamente para Ashley, falseia sentimentos por Melanie conquistando sua confiança. Em meio os arrochados espartilhos e a fome excessiva de comida e de vida, Scarlett procura de todas as maneiras, burlar as regras sociais que a cerceiam.
Viúva precocemente, Scarlett se ver responsável por Melanie e o filho de Ashley e retorna a Tara (fazenda de sua família, fonte inesgotável de sua força e amor) buscando proteger-se da devastação da guerra. Tudo o que estava ocorrendo muda a vida da garota, que perde seus luxos e passa de uma menina mimada a uma mulher forte e decidida. Ao voltar e encontrar a terra devastada, a mãe morta, o pai louco, as duas irmãs prostadas por Tifo, apenas dois escravos do contingente que a família possuía e a fome desoladora, Scarlett promete a si mesma que não será destruída e que fará qualquer coisa para atingir seus objetivos. Para preservar a fazenda da família, ela não mede esforços e será capaz de todas as transgressões possíveis, até mesmo mata para proteger a propriedade e é acobertada por Melanie.
Nas relações em festas no centro urbano (Atlanta) onde morava sua tia, ela conhece Rhett Butler (Clark Gable), um charmoso aventureiro disposto a tudo por uma aventura amorosa e por lucros. Esse é verdadeiramente seu igual, conhece o teor da alma de Scarlett e faz de tudo para seduzi-la, mas não consegue retirar o amor dela por Ashley. Em vários momentos Rhett a socorre, mas a relação conflituosa se estende desde o primeiro matrimônio de Scarlett até o fim do segundo (pois ela rouba o noivo da irmã) por ser esse um eminente empresário no ramo de madeireiras.  
Scarlett escandaliza em diversas esferas: trata diretamente com homens quando no período uma mulher não poderia dirigir-se a um homem sem uma acompanhante idônea, dançou com Rhett por dinheiro voltado á causa quando viúva, odiava usar preto, dirige seu próprio “coche” (carro, na atualidade), controla os negócios, coisa inadmissível para uma mulher. Ao ser flagrada em cenas de carinho com Ashley, recebe o desprezo e a exclusão das senhoras e é apoiada por Melanie.
Scarlett é a ruptura definitiva da heroína clássica: é forte, decidida, disposta a correr riscos no que tange a reputação, mas sua inconstância e interesse fazem com que ela concorde em casar-se com Rhett. Depois de dar a luz uma filha, Scarlett comete outra grande transgressão que para a época era pecado mortal: diz abertamente não querer mais ter filhos, o que para um machão como Rhett significava uma espécie de rejeição. O casamento aparente prossegue e nisso Scarlett não é diferente das mulheres de sua época. Rhett é totalmente dedicado a educação de Bonnie e a leva para viver com ele. Passado algum tempo, ele retorna para casa e nessas muitas idas e vindas, Scarlett o encontra bêbado e aí.... tenho a impressão de um estupro consentido. Isso é que derruba por vez toda a construção da personagem, quando ela acorda toda feliz na manhã seguinte, depois de ter sido “estuprada” pelo marido. Essa cena é a mais problemática de E o Vento Levou, junto com todas as que mostram qualquer personagem negro.
Realmente nos vem a ideia de que o diretor quer domar a personagem, que em muito, extrapola o suporte que a mídia da época permitia. Ao anular Scarlett na sua decisão de manter-se longe de Rhett, depois de longos anos em que ambos foram infelizes, colocá-la como derrotada pelas próprias emoções não fazem jus ao complexo personagem que ela é. Scarlett dizer “o que vou fazer sem você?” no final do filme chega a ser piegas para uma mulher que passou o que ela passou. Acredito  que ela possa ter amado Rhett. Mas não nos moldes tradicionais. Esse ela sente por Ashley, que no fim, passa a não corresponder as expectativas, já que não é capaz de administrar a própria dor da perda e Melanie a faz prometer que cuidará dele no leito de morte. Esse não é o jovem que ela amou, assim como ela não é mais a jovem ingênua do passado. Scarlett só possui uma coisa mais importante que a faz renascer sempre: o sentido de sua origem e o amor incomensurável que sente por Tara. Isso a torna digna de entrar na galeria de personagens marcantes da sétima arte.