Gênero: Drama Direção: Richard Attenborough Roteiro: Bryan Forbes, William Boyd, William Goldman Elenco: Robert Downey Jr, Anthony Hopkins, Dan Aykroyd, David Duchovny, Diane Lane, Geraldine Chaplin, Kevin Kline, Marisa Tomei, Milla Jovovich, . Produção: Mario Kassar, Richard Attenborough Fotografia: Sven Nykvist Trilha Sonora: John Barry Ano:1992.
O referido filme retrata a trajetória do inglês Charles Spencer Chaplin (interpretado por Robert Downey Jr.), um dos pioneiros na arte do cinema, recontada desde a sua infância pobre na Inglaterra do final do século XIX e inicio do XX, sua vinda para a América – a terra onde os sonhos se tornam realidades -, a conturbada vida amorosa e as perseguições sofridas por ele por parte do FBI. Os americanos da Inteligência desconfiavam de que Chaplin era comunista pelos posicionamentos críticos e cômicos em relação ás instituições legais. Seu personagem principal – que aliás ele mesmo revela que foi o diferencial na sua trajetória artística -, fazia troça de funcionários da alfândega. Ainda utilizava as imagens da estátua da liberdade que ele põe em evidencia nos seus filmes com a clara intenção de fazer mesmo uma crítica velada á “liberdade” vigiada dos cidadãos. Ele diz em uma cena que ama a América, por isso mesmo tem o direito de criticá-la. Apesar de viver e ganhar muito dinheiro na América, nunca pediu a cidadania americana, e isso se tornou alvo de desconfiança por parte dos vigias da sociedade americana. Chaplin foi um jovem idealista, genioso, extremamente perfeccionista e dedicado ao trabalho e, apesar de ter conseguido muito dinheiro – gostava do conforto e do luxo -, aparentemente não se deixou engolir totalmente pelo mercado de produções de massa. Sua arte foi a primeira a passar pelo seu crivo crítico, resistiu o quanto pode a ascensão dos filmes falados, por acreditar que a imagem desfazia as barreiras entre as gentes, impostas pelos idiomas. Sabia que sua tarefa era fazer os milhares de seres humanos rirem, alimentando as esperanças de dias melhores. Num jantar ele diz claramente que seu desejo era que a sétima arte fosse acessível a todos. Por valorizar amizades com pessoas tidas como “perigosas” ao sistema instituído, sua ficha nas agencias de espionagens americanas era vasta. Quando a Europa se vê assolada pela ameaça nazista, ele pondera que necessita tomar uma atitude em relação aos acontecimentos e se declara totalmente averso ao regime de Adolf Hitler. Quando decide produzir “O Grande ditador”, recebeu duras críticas do seu irmão – que era judeu por parte de pai – e o enfrentou dizendo que gostaria de ele mesmo ter essa honra de ser um judeu. O filme de Chaplin vai ser aclamado depois da segunda grande guerra, provando que ele era um homem que percebia as mudanças do seu tempo a ponto de antecipá-las. Em Tempos modernos ele faz um exercício da crítica ao mostrar o quanto a mecanização do trabalho se estende ao mecanicismo da vida humana, como crítica ferrenha ao modernismo que retira do homem a necessidade de ser pelo de ter. Historicamente falando, esse filme biográfico é uma mostra de como se produz uma história em particular. O personagem do historiador, o homem que escreve mediante os fluxos de memória de Chaplin, cuja memoria coletiva vai tornando-se individual e que é suprimida, selecionada, posta em evidencia de acordo com o propósito daquele que paga para que esse serviço seja assim. E alguns trechos, o escritor lhe pergunta por que não menciona tal fato ou não quer expor tal fraqueza e ele diz que não acha relevante para sua memória póstuma. Até mesmo na sua autobiografia filmada, Chaplin critica o Outro a partir de si mesmo, sendo fiel ao seu espírito transgressor. Essa é um modelo de fazer a História, mostra assim que a ciência tanto pode contribuir para evidenciar aquilo que se quer silenciar, como pode ser utilizada para silenciar aquilo que não interessa aos grupos dominantes, políticos econômicos e ideológicos. Tudo a partir do simbólico das artes, cujo poder de coação e de imposição se sobrepõe até mesmo a da violência física. Essa parte é um exemplo claro do pensamento de Charles Chaplin sobre o mundo e sobre si mesmo, presente no final do filme “O Grande Ditador.” “Sinto muito, mas não pretendo ser um imperador. Não é esse o meu ofício. Não pretendo governar ou conquistar quem quer que seja. Gostaria de ajudar a todos- se possível- judeus, o gentio…negros…brancos. Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que temos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades.O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém, desviamo-nos dele. A cobiça envenenou a alma dos homens…levantou no mundo as muralhas do ódio…e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios . Criamos a época da produção veloz, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz em grande escala, tem provocado a escassez. Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que máquinas, precisamos de humanidade; mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura! Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo estará perdido.
Fonte: http://amizadepoesia.wordpress.com/2007/01/29/o-pensamento-vivo-de-charles-chaplin/ disponível em 17/10/2013
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