segunda-feira, 8 de junho de 2015
Impressões da Ilíada
A afirmação de que “Toda grande obra de Literatura ou é a Ilíada ou é a Odisseia”, vem justamente ao encontro do conceito aristotélico de mimese. Segundo o filósofo a imitação é natural aos homens, e por imitar, os homens se diferem dos outros seres. E por imitar, adquirimos os primeiros conhecimentos. E pela imitação usufruímos do prazer.
Sendo assim, tanto na Ilíada quando na Odisseia, encontramos uma imensidão de elementos que servem de desconstrução e reconstrução para a própria poesia. A primeira, que como a imitação se aplica aos atos das personagens e estas não podem ser senão boas ou ruins (pois os caracteres dispõem-se quase nestas duas categorias apenas, diferindo só pela prática do vício ou da virtude), daí resulta que as personagens são representadas melhores, piores ou iguais a todos nós.
A apresentação da obra Ilíada contempla nossa curiosidade de maneira satisfatória ao andamento narrativo, dando toda a dimensão da querela das deusas pelo título de mais bela, iniciada pela deusa Éris, a disputa que se processou entre Afrodite, Atena e Hera, cuja grande vencedora – Afrodite – foi outorgada o título de mais linda pelo jovem mortal e pastor Páris, recebendo este como prêmio por conceder a vitória a deusa do amor, a mulher mais linda do mundo de então: Helena. Pela posse dessa mulher que se assemelhava a beleza das deusas, se desencadeou a sequência que se segue a guerra de Tróia e o papel do herói Aquiles no desenvolvimento da trama que já começa in media res, ação já ocorrendo e contínua.
O principal foco dessa obra é a figura e a fúria do herói Aquiles, símbolo da ideia de ícone grego de protetor e defensor. Aquiles era um semideus com características antropomórficas, por esse motivo mais próximo da divindade e capaz de questionar e escolher seu destino, coisa que era negada ao reles mortal. Ao mortal cabe apenas se resignar ao desígnio dos deuses e sem escapatória de fuga contra o destino traçado desde o início de sua vida humana. Dentro da narrativa da Ilíada se destacam homens mortais de alto quilate na ostentação de valores similares como é o caso de Heitor e Ulisses, homens com coragem, valor militar, habilidades, agudeza de espírito, perspicácia e no caso de Ulisses, astúcia individual.
O herói Homérico é o modelo daquilo que deve ser seguido, ideal que arregimenta em si a honra – ou seja, a consideração de seus iguais -, o que é belo e o que é bom. Esses ideais de beleza e de bondade eram de suma importância para o grego, visto que por essas características se podia considerar alguém virtuoso.
A guerra na obra de Homero é o elemento mais importante para gerar o herói, pois no caso dos humanos eles sempre estão controlados pelos deuses. No caso de Aquiles, sua fúria suscita a interferência dos deuses, pois se não o fora, o poder de destruição dele não seria contido, mostrando assim como a origem desses seres faz toda a diferença no tratamento que recebem dos favores divinos. A Ilíada também nos proporciona a oportunidade de ver um herói da envergadura dele, somente por sua origem diferenciada possível, questionar a guerra e a concepção de herói instituída pela escola filosófica grega. Afinal, de que serve tanta energia dispensada nessa disputa envolvendo interesses expansionistas gregos e o resgate da mulher de Menelau, se o fim seria a morte? Ele assim reflete quando se defronta com a escolha de ir para a guerra e morrer nela. Mas a outra possibilidade de ter sua memória eternizada o seduz, o desejo extremo do herói pela perpetuação de sua imagem o consome e ele entra na guerra para fazer a balança pender para os gregos.
No fim de seu destino, Aquiles encontra a morte pela flecha atirada de um mortal, mas guiada pelo deus Apolo, em vingança do sangue derramado de seu protegido, Heitor, assassinado e vilipendiado pelo próprio Aquiles. Ele o fez possuído de fúria profunda pelo assassinato de Pátroclo - amigo pessoal e íntimo - executado por Heitor, num campo de batalha, enganado pelo mesmo, que se disfarçava de Aquiles. Foi preciso Zeus intervir, pois Heitor era admirado pelos deuses, assim como pelos humanos.
Assim, Aquiles entra para a galeria dos heróis gregos como aquele que reproduz comportamentos humanos com os quais nos identificamos. Belíssimo clássico, A Ilíada é aquele objeto de arte feito de palavras, do qual gerações sem fim bebem para compor suas ficções.
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