segunda-feira, 27 de abril de 2015
Renasça
Renasça
Eu tentei. Eu juro que tentei. Tentei suplantar o desejo de sentar diante desse computador e escrever esse texto, mas fui vencida pelo cansaço, pelos meus demônios interiores. Sei que quando nos falarmos ao telefone daremos voltas e não chegaremos ao cerne da questão, por isso te escrevo.
Te escrevo por que sei que talvez nunca mais nos falaremos, não nos veremos, não nos tocaremos com as ásperas palavras que estabelecem o intenso amor que em tão pouco tempo nos nasceu. Amor não romântico, não compromissado, não confessado, mas verdadeiro. As palavras expressam almas que anseiam viver as pulsões plenas de vida. Vida que a cada ciclo pode vir a terminar, palavras que são mãos invisíveis a sondar corpos que fenecem a cada nova primavera e o detrimento da ânsia por uma maior compreensão de mundo.
As amarras de corda nada se comparam as amarras da vida, da convenção do café frio de nossas manhãs apressadas. As trajetórias do chicote e a dor física vem-nos como alívio de nossa vida negada, nosso anseio de liberdade, nossas dores de alma inconfessáveis.
As mordaças nada se comparam com as da nossa boa educação, dos nossos temores, do nosso medo de errar, de perder a rédea da nossa vida tão bem arrumadinha e mais ou menos, que nos trava os dentes e sufocam nossos gritos emocionais.
Quando entrares naquela sala deseje viver. Viva para me conhecer, para me olhar de cima a baixo e pensar que louco foste em dedicar atenção a essa pessoa tão simplória. Duvidarás do que falaste, escreveste e sentiste. Terá por alucinações esse encontro de almas e rejeitarás de um todo qualquer traço do que poderia ter acontecido, porém não o foi. Deseje viver para fugir. De tudo e de todos e de si mesmo. Ou deseje viver para ser mais sincero e verdadeiro consigo mesmo e com os outros sentindo a fugacidade dessa vida terrena que passa como a neblina.
Viva querido, para me renegar, me rejeitar, me ser indiferente, não aceitando beber as lágrimas que por ti agora derramo. Viva para sorrir, para despertar a dor como a carícia, para preservar o fogo das veias quando liberares o teu prazer pelo desejo de realizar-se independente de com quem estejas. Viva para olhar dentro do abismo e permitir o abismo olhar dentro de ti. Viva para renascer de si mesmo, para negar a pulsão de morte que tão de perto nos rodeia. Viva. Não sobreviva.
A negação de nossa verdadeira natureza nos tornou seres mortos, verdadeiros zumbis perambulando por uma infinita estrada nebulosa de medos. Viva para dizer que isso tudo é bobagem, fruto da minha imaginação e que tudo será sempre como sempre foi. Viva para dizer que nunca me conheceu, nem sabes da minha existência, nem te importas com minhas palavras. Mas viva. Essa é minha marca em Você. Pode deletar, apagar, fingir que não leu. Mas quero que minha voz ecoe dentro de ti. Viva.
Sheila
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